Plena liberdade invernal
1. Primavera Saímos dos cuidados paliativos. Ela tinha me pedido para que a levasse para o parque próximo do hospital. Nele, brincara muito na sua infância. Por ele, nos últimos tempos passámos a morar na casa em que vivia quando era menina. Por ele, mudámos de hospital, para que ela pudesse abandonar o corpo num sítio onde fora tão feliz. A desesperança já a tinha consumido. Lentamente descemos as escadas e parámos de frente ao abundante verde. O sol brilhava sobre o prédio do hospital atrás de nós; brilhava sobre as árvores, flores e relva que víamos. O vento soprava levemente. Tudo se movia. Víamos a branca luz do sol, no meio do céu azul, sobre as laranjeiras, as verdes folhas, os troncos castanhos e sobre as flores policromáticas. No céu, aves trissavam e se deslocavam em direção ao Sul. Ela mandou-me sentar num banco, ao lado de uma estátua, e que esperasse pacientemente. Sabia que eu não concordava com a sua decisão. Para mim havia esperança; mas obedeci. Torturada pelas ...