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A mostrar mensagens de maio, 2020

Plena liberdade invernal

1. Primavera Saímos dos cuidados paliativos. Ela tinha me pedido para que a levasse para o parque próximo do hospital. Nele, brincara muito na sua infância. Por ele, nos últimos tempos passámos a morar na casa em que vivia quando era menina. Por ele, mudámos de hospital, para que ela pudesse abandonar o corpo num sítio onde fora tão feliz. A desesperança já a tinha consumido. Lentamente descemos as escadas e parámos de frente ao abundante verde. O sol brilhava sobre o prédio do hospital atrás de nós; brilhava sobre as árvores, flores e relva que víamos. O vento soprava levemente. Tudo se movia. Víamos a branca luz do sol, no meio do céu azul, sobre as laranjeiras, as verdes folhas, os troncos castanhos e sobre as flores policromáticas. No céu, aves trissavam e se deslocavam em direção ao Sul. Ela mandou-me sentar num banco, ao lado de uma estátua, e que esperasse pacientemente. Sabia que eu não concordava com a sua decisão. Para mim havia esperança; mas obedeci. Torturada pelas ...

Maioridade

No meu nascimento veio à memória do meu pai uma frase abatida:  Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida É inverno em Portugal. Primavera no mundo. Estamos em abril. Cheguei à primavera da vida. T ão depressa o sol brilha como a seguir está a chover No silêncio da noite um blackbird singing in the death of night . Sorvo um gole de água da caneca. Oiço o elevador a subir e sorvo outro gole de água. Continua a cantar blackbird. Gosto da solicitude da noite. Gosto da inspiração que ela me dá. Tudo me inspira a escrever, mas nem um poema me sai. Quero cantar o mundo, mas sou português. Sou da terra dos poetas. Sou da terra dos artistas. Não há Tejo como o nosso. Não há ninfas como as nossas. Orgulha-te como eu me orgulho! Em mim não me orgulho porque a terra conclui pela décima oitava vez a sua volta ao sol desde o dia em que o pai disse: Hoje é o primeiro dia da tua vida. Parece que tudo recomeça. Uma nova primavera. Um novo ciclo. Mas não. É só mais um dia. Sorvo um gole de...

Crónicas da pandemia - a TAP é de todos, Portugal sem confinamento, abaixo o Twitter

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Com a segunda fase de abertura do país aí à porta, desconfinam também as notícias que vão saindo... Esta semana, os políticos em Portugal demonstraram que afinal a TAP é de toda a gente... para reclamar. Para mandar, não! Afinal, o Estado não detém 50% da empresa nem nada. Da esquerda à direita, do Presidente da República aos autarcas, todos criticaram o plano da companhia da retoma de voos, visto que apresentava pouquíssimas ligações ao Porto e a Faro, estando demasiado centralizado em Lisboa - alguns críticos mais radicais defendem até a mudança de nome da TAP para Transportes Algarve e Porto. Vamo-nos apercebendo que os portugueses têm um dom natural - gerir companhias aéreas. Todos sabemos o que fazer com a TAP! Tive acesso a um excelente programa de recuperação da empresa, elaborado pelo Joãozinho, do segundo ano de escolaridade:  Autoria de Joãozinho Foi publicado ontem um estudo acerca do impacto do confinamento no combate à pandemia, em Portugal. Concluiu-se que, sem confin...

Haicai de Luís M. Silva

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Primo Basílio - comentário de Luis M. Silva

Como recompensa por ter alcançado a honrosa segunda posição no Concurso Literário Camões 2018/2019, na categoria de ‘conto’, fui premiado com um exemplar de O Primo Basílio , de Eça de Queirós. O que mais me motivou para a sua leitura, foi tê-lo recebido depois de terminada a leitura de Os Maias , do mesmo autor. Na minha opinião, O Primo Basílio é uma obra interessante, em que o autor consegue, através de uma linha de escrita mais próxima da corrente realista-naturalista, sublinhar alguns males que à época atravessavam a sociedade portuguesa, principalmente em espaço urbano (Lisboa), sendo que alguns deles ainda perduram nos nossos dias. A mensagem principal deste livro relaciona-se com o tema do casamento, articulando-se com um subtema específico que cruza toda a narrativa, o adultério. Eça aborda esta questão de forma tão clara que, enquanto leitor, ‘senti’ a sua objetividade. Por outro lado, a ‘tipificação’ das personagens não foi, a meu ver, tão bem conseguida. É certo que p...

Uma rima

Rimar é estúpido É fútil Só porque soa bem não quer dizer que queira dizer algo Um funil Palavras aleatórias sem conexão Juntas só porque têm a mesma terminação Um carro fuma um charro porque é parvo Eu escolho seguir a lógica Onde tudo faz sentido Tudo estruturado encadeado emparelhado interligado Inter de Milão cão pão chão PARA. Não, recuso-me a pertencer a ti Recuso-me a pertencer a este mundo onde está tudo misturado E não existe Verdade Onde o caos reina e o certo e o errado e o bom e o mau e o mais ou menos e o menos ou mais e o irrelevante e os elefantes aí sim está tudo junto sem separação possível, nem mesmo por um mísero verso.  Mas parece que não tenho escolha Parece que acabamos todos por entrar neste mundo filósofo ou trolha Tanto tempo dedicado à procura de uma Verdade que, Na verdade, é mais frágil que uma folha Mesmo assim, não desisto. Com o resto das minhas forças vou fabricar uma máquina Capaz de analisar, si...

Crónicas da pandemia - André Ventura, playboy Marcelo e as linhas retas

Futuro Primeiro-ministro, Presidente da República, secretário-geral da ONU e Papa André Ventura foi despedido... do sítio errado. O agora deputado ex-Cofina foi dispensado da CMTV e do Correio da Manhã. O diretor do grupo Cofina considera que, recentemente, «foram ultrapassadas algumas linhas vermelhas». O homenzinho é tão baixo, tão baixo, que até o Correio da Manhã acha demais. Enfim! Marcelo Rebelo de Sousa é um autentico player . Põe-nas malucas e aproveita-se delas! Há relatos de que António Costa já bloqueou o Presidente nas redes sociais, e escreveu «são todos iguais» no Twitter. O sucedido é que, depois do romance com o Primeiro-ministro na Autoeuropa, Marcelo foi almoçar com Rui Rio em Ovar... Digno de novela. Entretanto, as descobertas acerca da COVID-19 prosseguem. Foi a vez da vice-presidente do Governo espanhol, Carmen Calvo, apresentar uma tese estonteante acerca da propagação da doença. A brilhante teoria é que Nova Iorque, Pequim, Teerão e Madrid estão em li...

Poema sobre os sentimentos relativos à viagem à Polónia

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O escritor e o leitor

Um escritor expõe O seu ritmo, as suas palavras Um leitor pressupõe Sentindo com as suas mágoas  Opiniões difundem  Palavras entrelaçam Almas correspondem  Sentimentos realçam Um escritor expressa Sua criatividade inclusiva Um leitor depressa Constrói uma opinião erosiva  Cada um tem o seu ritmo A sua forma de expressar  Para quê fazer alarido Se o ritmo de um escritor não podes mudar? Carolina Santos

Ousarão os mares

ousarão os mares enfrentar tal força terão eles o destemor que a ela transborda genuíno impulso é vento que remoça é bonança que se ergue é poder infinito é vontade de ser desenganem-se os mares desistam do afronte tardará em descansar esta rajada sonial João Miguel Simões

Não sei o que isto é

Não sei o que vou escrever honestamente, ninguém sabe. Neste momento ninguém sabe nada, mas sabem tudo. Tudo porque todos são entendidos. Em quê? Não sei. Ninguém sabe. Isto tudo nem faz muito sentido, mas também não tem de fazer. Como não se sabe nada, não se sabe o sentido das coisas. Só as coisas agora têm sentido. As pessoas deixaram isso para trás, perderam os sentidos. Não sentem. Também não querem sentir. Sinto-me assim, portanto. Mas não sei se sinto de todo.

Mas porque o amor...

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Conto inspirado no conto «Na sexta-feira venho contigo»

Eu não conseguia tirar aquela maravilhosa frase da minha cabeça. Nem sequer consegui aproveitar o meu fim de semana. Não fiz mais nada para além de sonhar com aquele passeio. Não me surpreenderia que depois dele acabássemos casados com quatro filhos e um rottweiler. Domingo à noite, recebi uma chamada da Carolina a perguntar-me se a ida ainda estava nos meus planos. Respondi-lhe rapidamente. Não queria que ela ficasse à espera. Na segunda-feira, durante as aulas não ouvi absolutamente nada do que me disseram. Eu estava tão desconcentrado que entrei por duas vezes em salas de outras turmas. Depois das aulas, eu e a Carolina encontramo-nos à porta da escola. As palavras saíam-me todas trocadas. Ela perguntou-me: - ¿Estás nervoso? - ¡ Oh, como eu estava! - Não precisas de estar. Só vamos juntos para casa. Ela não entendia. Para ela era só uma ida para casa, mas, na verdade, ¡ era uma passo para o nosso futuro! De qualquer forma, acalmei-me. Estava um clima húmido e...

Crónicas da pandemia - desconfinamento e negócios da China (parte 2)

Com o fim do estado de emergência em Portugal no primeiro fim-de-semana de maio, foi oficial: erradicou-se a COVID-19 do país. Toca a desconfinar! Passados quinze dias em estado de normalidad e calamidade, muita gente tem levado o termo «desconfinamento» à letra. Depois de longas negociações entre o Governo e o vírus, o bicho lá se comprometeu a não atacar em grupos com dez pessoas ou menos, pelo que os ajuntamentos dentro desse limite são agora permitidos - e claro, podem-se roçar todos uns nos outros! Na Costa de Caparica, por exemplo, os média têm noticiado a presença de banhistas nas praias, o que vai «contra as medidas impostas»...  Olha, cá para mim, essa malta é que fez bem. Andou-se a gastar milhões em reposições de areia, e agora não se pode ir à praia? Há que dar uso àquilo! E mais: as restrições que aí vêm para a prática balnear são tantas, que muitos já aproveitam para ir lá deixar o chapeuzinho e a cadeirinha, fica o lugar marcado. Sensatez, meus amigos! Ent...

Um tempo...

As portas das casas fecham-se, dos olhos abrem-se, tudo a todos a acorre. É com dor que vemos um mundo de memórias partir, é da tristeza dos olhos de cada, que nos perdemos, para nos encontra. Isto é um tudo que é nada. É apenas o conto do populista, que quer fama e glória esquecendo-se do envolvente. É o deixar crescer os pensamentos presos em gaiolas, que libertaram águias famintas. É um envolver nas tristezas que o passado nos ensinou a enfrentar… E hoje sabemos o que é amar, o que é estar longe, mas encontrar. É hoje que descobrimos a verdade da vida que parecia desprovida de qualquer sentido. É hoje que nos abraçamos. É hoje que percebemos a nossa igualdade. É hoje! Este hoje é tarde, este hoje é mesmo hoje que ontem foi abafado e que no dia anterior também, é o hoje do desespero, dos olhos que choram por não ter que dar de comer aos seus, é o hoje de sempre ignorado. São as portas do coração que se abrem para permitir que o outro as tranque, esquecendo-se que amanhã...

Aldeia global

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Um concerto

A fila dava a volta ao edifício. Muito lentamente as pessoas iam avançando, e o anfiteatro começava a encher. Estava esgotado, obviamente, afinal, não é todos os dias que se pode ouvir o maior pianista do mundo a tocar ao vivo. Quando finalmente a sala encheu, fecharam as portas e segui-se um silêncio de antecipação. O velho e experiente pianista entrou no palco vagarosamente, acompanhado de palmas pouco barulhentas de modo a não reprimirem o novo silêncio,  que desta vez transmitia concentração e respeito. O pianista sentou-se no piano. Outro silêncio, mas este já fazia parte da música. E, após um longo olhar para a plateia e um ainda mais longo suspiro, o pianista começou a tocar: Acorde de Ré Pausa Si Lá Sol Fá Si Lá Sol Fá Lá Ré Si pausa de meio tempo Acorde de Ré na mão direita e um Lá na mão esquerda Acorde de Fá na mão direita e um Lá na oitava abaixo na mão esquerda Pausa longa Acorde de si pianíssimo  Acorde de Mi Escala de Fá# crescendo Repetição do Fá# ...

Um suicida

Um suicida despede-se do mundo e morre. O mundo despediu-se de mim. Estou só. O que significa isto?

O dia mais estranho

Um dia, um professor da minha turma faltou e as minhas aulas acabaram mais cedo, por isso, fui brincar num parque com os meus amigos da escola. Agora, começa a parte negativa desta narrativa. Todos os meus colegas partiram de supetão. Fiquei numa rua que eu desconhecia. Estava sozinho e desnorteado. Não saí de lá. Não havia ninguém por perto, a não ser um bando assustador de motoqueiros. Então, aos tremeliques e sem mais opções, perguntei-lhes se conheciam um banco que havia ao pé da minha casa. Um deles, aproximou-se de mim lentamente e convidou-me para ir dar um passeio com eles. Respondi que não. Insatisfeitos com a desfeita, tentaram pôr-me as mãos em cima. Fugi. Eles perseguiram-me. Enquanto corria, passei por uma loja de tatuagens. Lembrei-me que a minha mãe sempre me disse: - Esses lugares só têm más companhias. Corri até que vi uma esquadra da polícia. Entrei e pedi-lhes indicações para chegar a casa. Bastava que eu mais adiante virasse à direita. Depois reparei ...

Estado de graça

Nunca fui grande apreciador da esquerda gourmet, mas há coisas que têm de ser ditas. A direita em Portugal anda meio esquecida das prioridades do momento. Numa altura tão decisiva para o futuro socioeconómico do país, da Europa e do mundo, não fazem valer aquilo que pregaram em tempo de eleições. Tanto falavam (e bem!) da elevadíssima carga fiscal, da baixa qualidade dos serviços públicos, dos dúbios negócios do Governo... E agora? Mostram-se mais ralados com os elogios do estrangeiro, eleições presidenciais e mesquinhices ideológicas, enquanto os negócios se vão afogando na lama e o povo caindo na pobreza. Até o PCP tem falado mais de PME do que quem 'deve'... A verdade é que até o ex-namorado do Partido Socialista, o Bloco de Esquerda, independentemente da carrada de visões com as quais discordo, tem por infindas vezes atacado as questões acertadas. Catarina Martins diz que o Governo encornou o seu partido com a direita - talvez a sua ira se tenha transformado num rejuve...

Há beleza nisto

«e há beleza nisto como em tudo o que é discreto»  - António Souto há beleza neste por resolver há beleza nesta incerteza somos como rio sucinto às margens a viver de limites já viram a beleza nisto transbordou o rio e inundou o mundo é mais complexa a auréola daquilo que é infirme faz exaltar a procura e há beleza nisto João Miguel Simões

Amizade

Morbidez Às vezes sinto um amor ardente Que passado o ruído imprudente Me destrói internamente. Só mal-me-quer Ao acaso minha vida é deixada. Descuidada. Em qualquer lado. Em qualquer instante. De modo indiferente. Desinteressante. Parece sempre uma faca Que corta a minha alma Com agulhas na ponta Depois todos se riem De uma forma desinteressada Na tristeza dos outros. Inocência Sempre me lembro De como era ser criança, Criança prudente E inocente… Todos perdoavam E amizade eterna. Com estes sei que posso contar E que eles iriam por mim ao mar Naufragar e sei que por eles e pelos outros Com muito prazer o faria… Lembro-me de nossos pais Gostarem de nos ver Na rua, na praia ou no jardim Sempre com um sorriso na cara E com muita amizade espalhada. Mas com isto vejo que hoje Os outros não sabem O que é a verdadeira amizade. Não se sabem valorizar Que lá esta sempre para ajudar Parece que se esquecem Do verdadeiro significado Da grande palavra ...

A sociedade

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Querido Siddhartha...

Querido Siddhartha,    Contigo caminho e continuarei a caminhar. Contigo aprendo e continuarei a aprender. Hoje ensinaste-me a doçura do silêncio, a doçura do pensar e do esperar. Antes dos mais passos já dados, já concluídos, predominava em mim uma angústia. A mesma, cuja a qual provinha da minha inquietação, da minha impaciência. A tranquilidade que me transmitiste, meu querido Siddhartha, permitiu-me desvanecer, desaparecer por meio da beleza do silêncio que nunca antes veria. Hoje, um sentimento em mim renasce, o meu coração acalma e os meus pensamentos emergem. Hoje oiço uma voz que tanto tempo se escondeu por detrás da minha essência. Despertei então, uma nova faceta do meu Eu, uma faceta que me levará para o cuidado de ouvir os pássaros a cantar, para a sabedoria do esperar. Com os meus mais delicados sentimentos,                          Carolina S...

Crónicas da pandemia - ataque nuclear, ciganos, negócios da China, estado de normalidade e Tom Cruise

O pânico está instalado a nível global! Não bastava a pandemia de COVID-19, paira agora uma significativa tensão nuclear. O presidente dos Estados Unidos da América afirmou que o atual estado da doença no país é «um ataque pior que o Pearl Harbor». Assim, está iminente uma largada de bombas atómicas, desta vez sobre a China, obviamente responsável pela libertação do vírus. Mas atenção, Tio Sam, que a coisa já está mais parecida com Hiroshima e Nagasaki…  O deputado da Cofina quer um plano de desconfinamento específico para a comunidade cigana. Tendo recebido inúmeras críticas por mais uma belíssima proposta do seu partido, decidiu responder às de… Ricardo Quaresma. Caramba, homem! Nem para racista serves. Queres falar mal de ciganos e atacas o cigano que o país mais gosta? Mal jogado…  Entretanto, o Governo já gastou oitenta milhões de euros na compra de equipamento de proteção individual, máscaras, álcool, entre outros, por ajuste direto e sem contratos assinados. O ...

Águas passadas

Sabes que é saudade Mas no fundo é verdade -Tu o viveste- É o teu mundo mergulhado É lembrança de um passado, Passado escuro de lembrança E saudade… Saudades das águas Mal navegadas, Onde perecem as conchas Que no seu soar Ressoam lembranças Saudades e esperanças. Filipa Coelho