Uma rima


Rimar é estúpido
É fútil
Só porque soa bem não quer dizer que queira dizer algo
Um funil

Palavras aleatórias sem conexão
Juntas só porque têm a mesma terminação
Um carro fuma um charro porque é parvo

Eu escolho seguir a lógica
Onde tudo faz sentido
Tudo estruturado encadeado emparelhado interligado Inter de Milão cão pão chão
PARA.
Não, recuso-me a pertencer a ti
Recuso-me a pertencer a este mundo onde está tudo misturado
E não existe Verdade

Onde o caos reina e o certo e o errado e o bom e o mau e o mais ou menos e o menos ou mais e o irrelevante e os elefantes aí sim está tudo junto sem separação possível, nem mesmo por um mísero verso. 

Mas parece que não tenho escolha
Parece que acabamos todos por entrar neste mundo
filósofo ou trolha
Tanto tempo dedicado à procura de uma Verdade que,
Na verdade, é mais frágil que uma folha

Mesmo assim, não desisto.
Com o resto das minhas forças vou fabricar uma máquina
Capaz de analisar, sistematizar, programar
Uma solução
E que me explique o porquê
desta confusão

Juntei então toda a informação que consegui
Anos de memórias e histórias
Teoremas e contos de Glória
Introduzi na máquina e pim pam poof
A solução tinha chegado ao fim

No meio de todo o caos e desorganização
Conseguira
No meio de incompreensão e ira
Conseguira
Sim, contra todas as probabilidades
Conseguira

E era tão simples e tão eficaz
Tudo resumido numa só palavra
Uma obra-prima
A solução era
era...
uma rima

Não.
Não não não.
Impossível.
Nope.
Não não não não não não não e não.
Nem pensar.
Teve piada, mas não.
Nunca nem vi.
Não.



Sinto-me a flutuar num mar de informação
Onde cada ideia é uma onda
Que me leva sem direção
E eu só preciso dum barco
Dum barquinhozinho
Algo que sirva como fio condutor
E me mostre um caminho

As minhas mãos tremiam e a minha cabeça queria explodir
Mas
Ou exatamente por isso
Descobri por fim o valor das metáforas e rimas e afins

Olhei para a máquina que fiz
E não sorri por um triz
Parece que é a poesia que consegue achar no caos, no certo, no errado, no bom, no mau, no mais ou menos, no menos ou mais, no irrelevante, nos elefantes, neste mar imenso de coisas e coisitas, aquela em especial que realmente precisamos.



A poesia pega mil rimas e encontra aquela que traz sentido
Um exemplo?
A poesia é como
É como... (Neste momento não consegui conter o sorriso)
Um funil

Miguel Sá Fernandes



























Comentários

António Souto disse…
Miguel, espero que continues a versejar, mantendo sempre esse lado mais rebelde das palavras por domar.
Continuarei a acompanhar!
Abraço
A. Souto

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