Gato Mago

Gato Mago


¡Arre, que não podia mais! O pobre Mago saíra das ondas sem saber quem era, para onde ia, nem como lá chegara.
Desembarcou numa praia perto da cidade e, ao sair do mar, sentiu a areia lamacenta nas suas patas e todo o peso do seu pelo molhado. ¡Arre, que não podia mais! O pobre gato quase rastejava. Não recordava o porquê de tantos males terem recaído sobre si. Naquele momento, ansiava conseguir voltar a casa.
Não demorou muito até que encontrasse a moradia de um pescador que, depois de alimentá-lo, o despediu. As ruas estavam escuras. O vento frio soprava forte. Mago correu para o centro da cidade sem ter noção do tempo. Procurava calor na madrugada, porém em vão. A cidade estava vazia e calada. Apenas a lua a iluminava. De repente, notou que o luar e a sequência da altura dos prédios eram cada vez menores, deixando-o à mercê dos seus outros sentidos. Foi então que descobriu um lugar que lhe pareceu confortável para se deitar.
O sítio era gélido, levemente inclinado e aberto; sem paredes, nem edifícios. Somente um punhado da luz da lua e do seu reflexo eram ainda visíveis. As negras nuvens cobriam o brilho das estrelas e o chão estava húmido como se tivesse de chover. O vento levitava gotículas do solo. Era uma terra deserta e quase silenciosa, ótima para se descansar. (Som de ondas)
O gato adormeceu. O dia amanheceu.
Quando Mago acordou, reparou que chegara à sua pátria. Por fim, chegara a casa.


Conto inspirado no conto “Mago”, in Bichos, de Miguel Torga
Luís M. Silva

Comentários

António Souto disse…
Luís, como se vê, a literatura é uma boa fonte de inspiração! E um conto, para ser bonito e bom, não precisa de muitas palavras!
A. Souto

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