Primo Basílio - comentário de Luis M. Silva
Como recompensa por ter alcançado a honrosa segunda posição no Concurso Literário Camões 2018/2019, na categoria de ‘conto’, fui premiado com um exemplar de O Primo Basílio, de Eça de Queirós. O que mais me motivou para a sua leitura, foi tê-lo recebido depois de terminada a leitura de Os Maias, do mesmo autor.
Na minha opinião, O Primo Basílio é uma obra interessante, em que o autor consegue, através de uma linha de escrita mais próxima da corrente realista-naturalista, sublinhar alguns males que à época atravessavam a sociedade portuguesa, principalmente em espaço urbano (Lisboa), sendo que alguns deles ainda perduram nos nossos dias. A mensagem principal deste livro relaciona-se com o tema do casamento, articulando-se com um subtema específico que cruza toda a narrativa, o adultério. Eça aborda esta questão de forma tão clara que, enquanto leitor, ‘senti’ a sua objetividade. Por outro lado, a ‘tipificação’ das personagens não foi, a meu ver, tão bem conseguida. É certo que podemos perceber que algumas personagens representam determinados ‘seres’ com os mesmos vícios e/ou virtudes: Luísa, a personagem principal, é o exemplo da ‘mulher’ romântica do século XIX que age impulsivamente.
Para esta ‘personagem-tipo’, ainda assim, o autor tenta apresentar possíveis causas para a sua ‘queda na tentação’, que resultaria no adultério com o seu primo Basílio. Para tal, apresentam-se-nos como hipóteses a curiosidade em recordar antigos momentos de namoro que haviam tido; a solidão sentida por esta personagem após a partida do marido em missão de trabalho; a influência da sua amiga Leopoldina, uma mulher popularmente conhecida na cidade pela sua conduta adúltera; ou, simplesmente, a inexistência de um sistema de valores sólidos que regessem a sua conduta – Luísa era alguém pouco devota ao entendimento e ao cumprimento dos valores da Igreja dos finais do século XIX.
Fecho este comentário salientando que fui duplamente premiado: primeiro, por me ter sido oferecido este livro; segundo, porque pude desfrutar da sua leitura simples e desinteressada e, ao mesmo tempo, refletir sobre vários assuntos que me permitiram concluir que a diferença entre as sociedades portuguesas dos últimos dois séculos é francamente mínima.
Fecho este comentário salientando que fui duplamente premiado: primeiro, por me ter sido oferecido este livro; segundo, porque pude desfrutar da sua leitura simples e desinteressada e, ao mesmo tempo, refletir sobre vários assuntos que me permitiram concluir que a diferença entre as sociedades portuguesas dos últimos dois séculos é francamente mínima.
Luís M. Silva
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A. Souto